Sobre a peça, abordou de maneira ousada e desafiadora a questão da
sociedade machista em que vivemos.
Textos como esses são importantes para romper com padrões de ações e
oferecer outras possibilidades de reflexão sobre o nosso contexto.
Gostei muito das cenas. Marcante a cena da delegacia da mulher, em que
a delegada, questiona o porquê a reclamante de abuso sexual estava na rua
aquela hora, já que sabia que algum delito poderia acontecer. Ou seja, a
própria delegada num ambiente de apoio à vítima mulher, argumentou embasada no
machismo que está impregnado em nossa cultura. Oras essa, para a delegada a
mulher que fique em casa e use roupas adequadas, ou então, ela mesma será
culpada pelo abuso que poderá sofrer.
Com isso, é importante também pensar que os (as) próprios agentes
públicos muitas vezes não têm um ambiente que possibilite refletir sobre as
questões da mulher, mesmo trabalhando em um lugar que preste atendimento para
essas. As pessoas são alienadas continuamente pelos meios comuns de
comunicação, escola, ambiente de trabalho... que reproduzem um padrão de
comportamento pejorativo no que refere-se a mulher.
Os meios de comunicação estimulam o patriarcado com suas propagandas,
novelas, filmes. A escola ensina sobre os brinquedos de meninas e de meninos
separadamente. As meninas não podem brincar de carrinho, os meninos muito menos
podem brincar de bonecas. As meninas têm que cozinhar no fogãozinho de
brinquedo, já os meninos jogam vídeo game.
O menino também ao longo da vida é oprimido ao ser ensinado que
"homem é forte"; é ensinado que não pode chorar, pois é coisa de
"maricas"; não pode usar rosa; não pode brincar de casinha; não pode
brincar de boneca.
E ao ser oprimido, como diria o grande Paulo Freire: Vira o opressor.
Passa então, a ser opressor da mulher. Ele é quem pode tudo. A mulher é frágil
e está submetida as suas condições.
Mas homens e mulheres são iguais criaturas humanas. A questão da
humanidade deve preceder a questão de gênero. E a busca de igualdade não
refere-se somente ao trabalho e divisões de tarefas domésticas, mas sim,
igualdade no que tange o respeito pelo ser humano, independente de ser homem ou
mulher.
No entanto, o homem também tem que ser libertado dos padrões de
comportamento a que foi submetido. Por isso, feminismo não deve ser a luta da
mulher contra o homem, pois, assim, iríamos para a outra esfera do preconceito.
O feminismo tem que ser a luta pela quebra desse pensamento estagnado a que nós
somos estimulados. Devemos lutar por esclarecer nosso direito ao respeito,
nosso direito por igualdade de direitos e direitos esses que são óbvios.
Direitos que são do branco, direitos que são do negro, direitos do baixo,
direitos do alto, direitos do novo, direitos do velho. Direitos iguais e
respeito que independe da questão de cor, sexo, raça, religião.
Infelizmente nós somos ensinados a tratar o respeito de acordo com a
circunstância do outro. A condição de ser humano não é o suficiente para ter o
respeito. O seu estado (rico, pobre, branco, negro, mulher, homem) é que vai
ditar o respeito e direito que terá.
Se é pobre e negro não merece respeito;
Se é rico e elegante merece até espumante;
Se é mulher, vista-se formosa ou então, leva um grito desrespeitoso de
gostosaaa;
Se tem dinheiro e status financeiro vira até o meu herdeiro;
Mas se está desempregado seu lugar é do outro lado.
Após a peça houve o debate "Feminismo, Cultura e Política"
com a Fernanda da Cia Kiwi de teatro.
Noite boa e proveitosa.
Peça: A Casa dos homens
Coletivo 2° Opinião
Sede Luz do Faroeste