sábado, 24 de abril de 2010

Mary e Max

Fui convidada pela Roberta (Branca) para assistir o filme, inicialmente, pensei que tratava-se de uma animação de história engraçadinha, mas o que se vê é um drama cômico envolto por vários detalhes, que se mostram aos poucos e impressiona pela intensidade do roteiro e pelos rumos inesperados que história toma.
Ela se acabou de chorar (excessivamente!rs).
Muito bom!!!

Desenvolvido com a técnica do stop-motion e finalizado com a ajuda da computação gráfica, o filme é baseado em fatos reais, sobre a amizade entre uma menina australiana de 8 anos e um novaiorquino de 44. Ela é gordinha, desajeitada, muito curiosa; sua mãe é uma alcoólatra depressiva e seu pai trabalha numa fábrica de pregar cordões nos saquinhos de chá. Ele é um senhor que sofre da Síndrome de Asperger, recluso em sua casa, seus pensamentos lógicos e seu vício em cachorro quente de chocolate (!). Ambos são cheios de pensamentos filosóficos sobre a vida, que só diferenciam-se pela diferença etária.
Mary e Max,encantam e emocionam do começo ao fim, assim como a bela trilha sonora instrumental. Uma overdose muito bem vinda de originalidade.
Uma frase, aparentemente simples, dita pelo médico de Max, Dr Hazelhof, resume o filme: “a vida de todo mundo é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas, outras (…) têm fendas, cascas de banana e bitucas de cigarro”.
Direção: Adam Elliot
HSBC Belas Artes Consolação

Estranhas Galinhas

Estava curiosa pra assistir essa peça,me interessei pelo fato de ser inspirada num conto do Gabriel García Márquez.
O centro cultural estava muito cheio, pelo fato das apresentações da mostra, ainda bem que a Roberta conseguiu pegar um ingresso pra mim, pois como sempre cheguei em cima da hora e os ingressos deveriam ser retirados com 2 horas de antecedência.
As atrizes foram ótimas, mas achei o texto cansativo, meio clichê, seguiu um só caminho sem conseguir fazer algum sentido.
O Grupontapé de Teatro apresentou o espetáculo “Estranhas Galinhas” na V MOSTRA LATINO-AMERICANA DE TEATRO DE GRUPO, da Cooperativa Paulista de Teatro, a apresentação aconteceu no dia 21 de abril no centro cultural.
A peça é inspirada no conto Um senhor muito velho com suas asas enormes, de Gabriel García Márquez, e resgata traços da religiosidade e da cultura popular mineira. Vivendo isoladas dos olhares do povo, três irmãs devotas e seguidoras de São Roque se vêem diante do imprevisível e buscam em outros olhos a cumplicidade de cada momento daquela semana de carnaval em Santo Antônio dos Conjurados.
Direção: Fernando Limoeiro e elenco
Texto: Fernando Limoeiro
Centro cultural SP

domingo, 11 de abril de 2010

Papo, Pinga e Petisco

O PPP fica na Roosevelt 118, é a reencarnação do bar Djalma's, onde Elis Regina se apresentou pela primeira vez. Eu adorooooo a decoração absolutamente pitoresca com geladeiras antigas, muitas quinquilharias, estante com livros no meio do ambiente, um sebo no fundo, discos antigos, muitos objetos inusitados e nostálgicos.
Sem contar as pingas, o caldo e a berinjela temperada!!! Huummmm
O ambiente e as pessoas são bastantes agradáveis.Só um garçon que é meio marrento, mass as outras coisas compensam.
Maravilhoso!

Pça Roosevelt,118
SP

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tempos de Paz

O diretor Daniel Filho teve a idéia de Tempos de Paz após assistir a peça teatral "Novas Diretrizes em Tempos de Paz", de Bosco Brasil.
Filme sobre as pessoas que foram torturadas pelo regime de Getúlio Vargas e com o fim da 2ª Guerra Mundial, vários presos políticos ganharam a liberdade. Apesar disso, não mostra mais a guerra, mostra o monólogo entre Segismundo (Tony Ramos) e Clausewitz (Dan Stulbach), que é rico, exagerado e cheio de arte!
Gostei muito da parte em que ele inicialmente mente dizendo ser agricultor, justificando que o Brasil precisa de braços fortes, e depois bem no final diz que apesar do Brasil precisar de braços fortes ele ira fazer o que tem pra fazer, o que sabe fazer...levar o teatro.
Achei muito bacana, pois num tempo em que as pessoas naturalmente estariam mais "duras" se comovem com a apresentação do Clausewitz, como se fosse um pouco de luz, esperança,amor,em meio a tantas coisas tristes que vivenciaram.
Além do filme ser bom, achei melhor ainda pelo espaço que o cinema brasileiro vem ganhando! 10!
"Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,já que me tratais assim,que delito cometi contra vós outros, nascendo; que, se nasci, já entendo qual delito hei cometido:bastante causa há servido vossa justiça e rigor,pois que o delito maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber,para apurar males meus deixando de parte, ó céus,o delito de nascer,em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,que privilégios tiveram como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,apenas é flor de pluma,ou ramalhete com asas,quando as etéreas plagas corta com velocidade,negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,quando atrevida e cruel,a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade, monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira, aborto de ovas e lamas,e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira, quando a toda a parte gira, num medir da imensidade co'a tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio, tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata, e apenas, serpe de prata, por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natura em piedade que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,quisera arrancar do peito pedaços do coração.Que lei, justiça, ou razão,nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,exceção tão principal,que Deus a deu a um
cristal,ao peixe, à fera, e a uma ave?"
direção: Daniel Filho
roteiro:Bosco Brasil

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Segredo dos Seus Olhos

Filme argentino, conta uma história em dois tempos que se alternam muito bem!
Não é só uma história de amor ou sobre um crime, é sobre um homem que passa 25 anos se perguntando “como se faz para viver uma vida vazia, cheia de nada”
Muito,muito bom!

Após trabalhar a vida toda num Tribunal Penal, Benjamín Espósito se aposenta. Seu tempo livre o permite realizar um sonho longamente postergado: escrever um romance baseado num acontecimento que vivera anos antes.
Em 1974, foi encarregado de investigar um violento assassinato. A Argentina entrava num ciclo de extrema violência política e a investigação colocou em risco sua vida. Ao escavar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe, assim como decisões e equívocos passados. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida.
Direção: Juan José Campanella

sábado, 3 de abril de 2010

Amor nos tempos do cólera

Gosto muito da forma como ele escreve!
História entre Florentino Ariza e Fermina Daza se apaixonam um pelo outro, quando ainda muito jovens. Se correspondem por cartas, muito bonito a forma como tudo acontece e é narrado.
São separados pelo pai de Fermina, o Lorenzo Daza.Assim ela se casa com Juvenal Urbino que é um médico que chega para combater a epidemia do cólera. Florentino Ariza jura amor eterno a Fermina Daza e mesmo quando sua amada casa-se com Juvenal Urbino, sua espera persiste por mais de 50 anos, quando Juvenal morre.Já velhinhos eles recomeçam um história de amor. É lindo ler sobre o amor dele por ela, durante toda a vida!
Um incrível e irresistível romance que trata do amor, da velhice e da morte.Onde os sintomas do cólera se confundem com os sintomas do amor.

Quando Florentino viu Fermina pela primeira vez “perdeu a fala, o apetite, e passava as noites em branco às voltas na cama.” Agora que estava à espera da resposta à sua carta, os sintomas eram muito piores – “a ansiedade complicou-se-lhe com diarreias e vómitos esverdeados, perdeu o sentido de orientação começando a padecer de desmaios súbitos.”. A mãe ficou muito alarmada com esta situação pois estes sintomas não pareciam provocados pelo amor mas sim pela cólera. Até que o padrinho de Florentino, após observar o rapaz e depois de falar com ele e com a mãe, pode “comprovar mais uma vez que os sintomas do amor são idênticos aos da cólera.
não era cólera, era mal de amor.

Autor:Gabriel García Márquez

Saúde Mental - Rubem Alves

Muito,muito bom!Leiam!Dediquem um pouquinho do tempo, vai valer muito a pena!
"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.
Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.
Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.
O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.
Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!
Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.
Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?
Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não desligue a televisão.Deixe-se hipnotizar pelos programas de auditório.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."
Rubem Alves
Livro:O médico