quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tempos de Paz

O diretor Daniel Filho teve a idéia de Tempos de Paz após assistir a peça teatral "Novas Diretrizes em Tempos de Paz", de Bosco Brasil.
Filme sobre as pessoas que foram torturadas pelo regime de Getúlio Vargas e com o fim da 2ª Guerra Mundial, vários presos políticos ganharam a liberdade. Apesar disso, não mostra mais a guerra, mostra o monólogo entre Segismundo (Tony Ramos) e Clausewitz (Dan Stulbach), que é rico, exagerado e cheio de arte!
Gostei muito da parte em que ele inicialmente mente dizendo ser agricultor, justificando que o Brasil precisa de braços fortes, e depois bem no final diz que apesar do Brasil precisar de braços fortes ele ira fazer o que tem pra fazer, o que sabe fazer...levar o teatro.
Achei muito bacana, pois num tempo em que as pessoas naturalmente estariam mais "duras" se comovem com a apresentação do Clausewitz, como se fosse um pouco de luz, esperança,amor,em meio a tantas coisas tristes que vivenciaram.
Além do filme ser bom, achei melhor ainda pelo espaço que o cinema brasileiro vem ganhando! 10!
"Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,já que me tratais assim,que delito cometi contra vós outros, nascendo; que, se nasci, já entendo qual delito hei cometido:bastante causa há servido vossa justiça e rigor,pois que o delito maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber,para apurar males meus deixando de parte, ó céus,o delito de nascer,em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,que privilégios tiveram como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,apenas é flor de pluma,ou ramalhete com asas,quando as etéreas plagas corta com velocidade,negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,quando atrevida e cruel,a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade, monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira, aborto de ovas e lamas,e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira, quando a toda a parte gira, num medir da imensidade co'a tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio, tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata, e apenas, serpe de prata, por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natura em piedade que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,quisera arrancar do peito pedaços do coração.Que lei, justiça, ou razão,nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,exceção tão principal,que Deus a deu a um
cristal,ao peixe, à fera, e a uma ave?"
direção: Daniel Filho
roteiro:Bosco Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário