domingo, 23 de janeiro de 2011

Denise Stoklos - Louise Bourgeois

Olha, que bacana não sabia que a aranha exposta no Ibirapuera era dela.
O espetáculo biográfico apresentado pela Denise Stoklos como tudo que ela faz, é ótimo!
Engraçado, intenso, real!!!
Aborda a vida, obra, indagações e angústias da artista, boa parte associadas da sua relação com seu pai e mãe.
Freud iria adorar essa paciente.
Louise Bourgeois: faço, desfaço, refaço é um espetáculo com textos e cenários da artista mundialmente aclamada, francesa de nascimento mas naturalizada americana, em que a atriz e dramaturga Denise Stoklos retrata seus pensamentos publicados em diversos livros e entrevistas, na primeira pessoa.

Centro Cultural Vergueiro
Rua Vergueiro 1000 - 3397 4002
Louise Bourgeois (Paris, 25 de Dezembro de 1911 - Nova Iorque, 31 de maio de 2010) foi uma artista plástica conhecida no Brasil por sua escultura Maman, uma enorme aranha que permanece em exposição no MAM-SP, na marquise do Parque Ibirapuera.
" - escultura em aço 1996 - MAM Museu de Arte Moderna de São Paulo
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Escultura de aranha da artista Louise Bourgeois, instalada em frente a Tate Modern de Londres em 2007

"Louise Bourgeois desenvolveu uma lógica das pulsões, importando vincular sua obra aos grandes temas do conhecimento ou da literatura e não aos sistemas da arte. Melhor falar então de um material extraído de recalques e embates da vida como abandono e ira, desejo e agressão, comunicação e inacessibilidade do Outro. No confronto permanente entre pulsões de morte, angústia, medo e as pulsões da vida, a obra de Louise Bourgeois é uma dolorosa e triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física, não no sentido religioso, mas como a conversão da eletricidade em força. (...) Digamos então que a obra de Louise Bourgeois caminhe pela territorialização de imensidões. São assim o corpo, a casa, a cidade e o desejo. Ou a geometria, a família e a insularidade. Obra antiplatônica, não se satisfaz com o mundo das idéias e conjecturas. Deseja ter um corpo.
Esta arte não despreza a intensa referência ao sujeito. Retira a mulher da zona da sombra da história da arte. E esse sujeito da arte é uma mulher. Depois de Bourgeois, o universo da arte já não será de mulheres no mundo dos homens, nem têm de falar aí a linguagem dos homens, mas tornar presente seu próprio desejo. Moda e roupa são partes de um código identificado com o feminino. (...) A imensa Aranha (...) é trabalho, doação, proteção e previdência. É da potência da teia oferecer-nos acolhida ou enredar-nos como uma presa. 'A domesticidade é muito importante. Eu a acho avassaladora. Como tem de ser prática, paciente e prendada.' A afetuosa memória da maternidade está entremeada em várias esculturas.

Paulo Herkenhoff 
Fonte:http://www.sampa.art.br/biografias/louisebourgeois/

sábado, 22 de janeiro de 2011

1° aula Oficina Criação Poética - Casas das Rosas

Façam é muitooo bacana e fácil.
vale a pena, vão se surpreender como fica o poema depois que as palavras concretas são trocadas pelas abstratas e vice e versa!

E me mandem por email!!

sulamitaassuncao@hotmail.com

É claro que não vou comentar todas as aulas na íntegra, mas como a primeira é aquela sensação de ansiedade e novo, eis aí parte do exercício da minha oficina de criação poética.

Estou ansiosa para a próxima quinta!! hahaha

E fica a dica para quem quiser, sempre tem novas turmas.
E o melhor, só paga taxa de inscrição R$ 10,00.
http://www.poiesis.org.br/casadasrosas/

Bom, continuando...
Primeiro que meu *professor é um fofo! *www.fredericobarbosa.com.br

Ele lê as poesias e as comenta cheio de intensidade e intenção, sem contar que tem super bom humor, o que pra mim é uma qualidade moral.
Sabemos que as poesias podem ser metáforas que fazemos da beleza ou angustia e amor que temos.
Mas isso em exercício ficou um máximo.
Metaforizar o sentimento que é abstrato X coisas concretas

Então, escolhemos primeiro os 10 abstratos, depois os 10 que de forma concreta significavam o abstrato

Ficou assim:

Abstrato x concreto

Fúria - Vulcão
Nojo - Político
Medo - Sangue
Fome - Colher
Ansiedade - Fila
Plenitude - Mar
Nostalgia  - Relógio
Fé - Criança
Orgulho - Ouro
Dor - Lágrima

Depois criamos a poesia somente com as palavras abstratas.
Colocamos os 10 sentimentos em poesia (em SOMBRA).

Tanta fome de
Sobrevém a dor
Porque não encontro plenitude

Meu orgulho me enoja
Aumenta o medo dessa fúria
Há fuga dessa nostálgica ansiedade?

A melhor parte é quando você cria a mesma poesia, com a mesma intenção, mas substituindo o que estava na frente do sentimento, no caso, o que para esse sentimento significava coisas, o concreto.

Então na poesia abaixo, por exemplo, a palavra fome (Abstrato) representa colher (concreto) na associação que fizemos, assim será substituída para o poema.

Então a poesia criada com as palavras concretas colocadas nos lugares dos sentimentos acima, ficou assim:

Tanta colher de criança
Sobrevém a lágrima
Porque não encontro mar

Meu ouro me politiza
Aumenta o sangue desse vulcão
Há fuga desse relógio em fila?

Poucos vão entender que colher está metaforizando com fome.
Ou então, como saber que a plenitude que o poeta não encontra na verdade é o mar?

Por isso que ás vezes preciso pensar para entender a poesia, pensando tentamos nos aproximar do poeta e entendendo a intenção, nos aproximamos...sentimos juntos.

Não é lindo?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Filme e debate : Fellini - Satyricon

Um instituto muito bacana que possui uma grade com vários eventos!

CinePsi Apreendhere

http://www.apreendhere.com.br/cine.html

Nesse eu vouuu!!

Dia 28/01 das 19h ás 22h - Próx estação Carrão

O Mágico

  Simplesmente fantástico!

Do mesmo diretor de As Bicicletas de Belleville(2003) que ainda não tive a oportunidade de assistir.
A animação"O mágico" é encantadora, assim como os personagens caricatos, excelente e tranquila trilha sonora, beleza de cenário das ruazinhas de Paris, Londres e Escócia por onde ele viaja em busca de uma sorte diferente para as suas apresentações. Ruas essas muito representativas por suas cores, lindos e pequenos detalhes, beleza que nos traz um imenso fascínio só com a fotografia da história.

Li um título de reportagem no espaço unibanco onde assisti a animação, título esse que dizia: filme "Triste e Belo" e tem todo sentido! Filme triste e Belo...
Cheguei até pensar que no final teria um desfecho feliz, mas acho que se fosse assim não teria essa magia.
Demonstra de maneira delicada e cheia de detalhes e encanto vários momentos, vários gestos, vontade de suprir as ilusões alheias e as suas próprias ilusões. Entretanto, ao final apaga-se as luzes sobre todas as coisas, o ventríloquo que era querido para o artista, o sapato que a menina iludia-se, os lugares na cidade, e a frase depois de todas as tentativas, desilusões e desfecho da história:

"Magicians do Not Exist"




Nome: O mágico
Nome Original: L'illusionniste
Origem: França
Ano de produção: 2010
Direção: Sylvain Chomet

sábado, 15 de janeiro de 2011

O primeiro que disse

É uma comédia Italiana que está passando no RESERVA CULTURAL alí na Paulista.

Gostei bastante da história e do desfecho do filme que dá sentido ao título, "O primeiro que Disse".

Tem cenas muito engraçadas, principalmente no momento em que os amigos de Tommaso chegam para visitá-lo.

Além disso, o filme é interessante, pois trata de vários conflitos pessoais e morais.

O papel da avó também nos marca muito, com suas falas e amor impossível.

Tudo isso abordado através dos personagens caricatos e costumes italianos.

Super recomendo!!!!


Itália , 2010
Comédia
Direção: Ferzan Ozpetek

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um dia a mais

Hoje aprendi, mais uma lição
Que a dor do coração
Ajuda nos dando um grande empurrão
E quando você nem imagina
Uma luz aparece na escuridão

E que o olhar sentido
Do pulsar dolorido
É como se fosse um alivio
No peito sangrando adormecido

E quando você pensa, você chora
E por isso, sua alma implora
A colocar pra fora
Tudo aquilo que te apavora

E como se alí doendo, sofrendo, sozinho
Ir de encontro sem resposta
Mas seguir o seu caminho

Será que algum dia estaremos prontos?

Sula

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Paixão, amor, casamento...

Então, fica a dica... Vamos manter o sistema de recompensa do outro ligadinho pra que a paixão e o amor permaneçam acesos!


Pesquisas neurocientíficas mostram que é possível sentir-se encantado pela mesma pessoa por décadas

Por Suzana Herculano-Houzel
Fonte: Mente E Cérebro

Edição 214 - Novembro 2010
Você já se imaginou vivendo 10, 20 ou 50 anos com a mesma pessoa? Sentindo sempre o mesmo prazer em sua companhia, o mesmo conforto em seus braços? Se a perspectiva parece interessante, agradeça ao seu cérebro (e se não lhe agrada, a culpa é dele, também). De certa forma, é curioso que laços afetivos fortes, como os amorosos, sejam tão importantes para nossa espécie. Tecnicamente, viver em sociedade, ou mesmo em pares, não é obrigatório para a sobrevivência de nenhum animal – vide tantos mamíferos, aves e outros bichos que procuram um par somente para o acasalamento e imediatamente depois seguem cada um o seu caminho.

Se gostamos de formar pares a ponto de investir boa parte de nossa energia, tempo e esforços cognitivos em convencer um belo exemplar do sexo interessante de que nós somos a pessoa mais sensacional e desejável na face da Terra, é porque o sistema cerebral humano, como o de outros animais sociais, é capaz de atribuir um valor positivo incrível à companhia alheia. Isso é função do sistema de recompensa, conjunto de estruturas no centro do cérebro especializadas em detectar quando algo interessante acontece, premiar-nos com uma sensação física inconfundível de prazer e satisfação e ainda associar esse prazer com o que levou a ele – o que pode ser uma ação, uma situação, um objeto ou... alguém.
Conforme o prazer se repete na companhia dessa pessoa, o valor positivo que atribuímos a ela é reforçado (enquanto torcemos para que o mesmo aconteça no cérebro dela, associando um valor cada vez mais positivo à nossa própria companhia, claro). É o que fazemos no período de namoro, quando conversas interessantes, passeios agradáveis, boa música, boa comida e carinho oferecem prazeres que vão sendo associados à companhia do outro. Se rola sexo, então, melhor ainda: o prazer do orgasmo funciona como uma cola extraordinária para o sistema de recompensa, que atribui (corretamente!) a satisfação incrível àquela pessoa específica (mas é verdade que isso não funciona tão bem em alguns cérebros...).
Com a repetição, o sistema de recompensa vai aprendendo a ficar ativado não apenas em resposta, mas também em antecipação à presença daquela pessoa. Esse prazer antecipado é a motivação, que nos dá forças para alterar compromissos, abrir espaço na agenda e ficar acordado madrugada adentro. Essa é a paixão, estado de motivação enorme em que se faz tudo em nome de mais tempo na presença do ser amado.
Quando vira amor? Essa questão é complicada, mas existe ao menos uma definição operacional curiosa: passado o ardor da paixão, descobre-se que se ama alguém quando pensar em uma vida sem ela causa angústia sincera e profunda. O amor é esse laço que faz seu cérebro achar que sua felicidade está vinculada à presença e à felicidade do outro e que fazê-lo feliz dá novo sentido à sua vida. Nesse estado, desejar o casamento é apenas natural.
Se é para sempre? Depende de vários fatores, alguns deles fora de nosso alcance, como ser traído (e não apenas sexualmente). A boa notícia da neurociência sobre a longevidade dos relacionamentos amorosos é que eles não estão necessariamente fadados ao esgotamento: é, sim, possível se sentir apaixonado décadas a fio pela mesma pessoa. E não é mero acaso de sorte: você pode fazer sua parte. É uma questão de continuar inventando e descobrindo novos prazeres a dois. Tudo para manter o sistema de recompensa do outro interessado em você...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fernando Pessoa - Museu da Língua Portuguesa

Muito Bacana!

Brigada Dé, presença essencial nessa tarde ótima de domingo!!

A exposição está em cartaz na sala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa
De 24 de agosto de 2010 até 30 de janeiro de 2011
De terça a domingo, das 10 às 18h

Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº, Centro – São Paulo


Lindooo!

Fechamento Cine Belas Artes

Poxa, uma grande perda!

Para não ter que dizer que o fim é apenas o começo


Após 68 anos de história, no fim de janeiro, serão fechadas as salas de um dos mais antigos cinemas de São Paulo: o Cine Belas Artes. Um lugar que mais do que um mero conjunto de salas de projeção foi responsável pela formação intelectual do paulistano, atuando como verdadeiro Centro Cultural.
Com o fim do Belas Artes, que nasceu das origens do cinema de autor, vai com ele também a sensação de que restam poucos lugares no quais é possível buscar um refúgio para a reflexão. Um cinema destemido, capaz de sobreviver mesmo com apenas um espectador.
O espetáculo se encerra. As cortinas se fecham. O público agradece e é hora de ir. A despedida seria silenciosa se não houvesse uma apuração mais “curiosa” da imprensa. Seria um encerramento sem surpresas. Pessoas passariam pelo lugar, que há mais de seis décadas acolheu de cinéfilos a apenas apreciadores da sétima arte e se espantariam, perguntando: Mas, o que aconteceu!?
Antes que tudo termine, prestaremos uma singela homenagem a todos aqueles que dedicaram seu tempo a cuidar, trabalhar e fazer do Belas Artes seu refúgio. Algumas pessoas fizeram, dali, sua vida por obrigação, ou não.
Essa é a maneira que o Catraca Livre encontrou de homenagear este parceiro tão importante para São Paulo. Portanto, durante todos os dias de janeiro, até o seu fechamento (previsto para o dia 27 deste mês) colocaremos no site histórias de funcionários a espectadores. Pelo menos, dessa maneira, entendemos que a história não se acaba com o apagar das luzes.

Fonte: Catraca Livre

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Trabalho Sujo

Camis e eu nos interessamos, pois estávamos super a fim de ver uma comédia e vendo a capa do filme, prometia. Mas independente de qualquer crítica, o filme está longe de ser uma comédia, com certeza está mais para o gênero drama.

O filme tem ótimas cenas, entretanto, o roteiro vaga de um lado para o outro, entre comédia, drama, romance sem atingir intensidade e dar liga em nenhuma direção. Acho que se perde um pouco, apesar das histórias serem interessantes.

Sinopse do Filme Trabalho Sujo:
Rose Lorkowski (Amy Adams), uma ex-líder de torcida e agora diarista trintona luta por uma vida melhor para ela e seu excêntrico filho de oito anos, Oscar Jason Spevack. Sua irmã mais nova, Norah Emily Blunt ainda mora com o pai delas, Joe Allan Arkin, que tenta o mais recente de uma longa lista de estratagemas para enriquecer rapidamente. Quando Rose fica sabendo a respeito da alta soma que pode ser ganha com a limpeza de cenas de crime e com a remoção de lixo tóxico, ela e Norah se unem para criar sua própria empresa, Sunshine Cleaning.


Curiosidades:
  • O filme é baseado em uma história real narrada no programa de rádio "All Things Considered", em 2001, no qual duas amigas que viviam no subúrbio de Seatlle abriram um negócio de remoção de lixo biológico;
  • A breve cena de topless de Amy Adams foi censurada na versão de "Trabalho Sujo" lançada em home video nos Estados Unidos;
Direção: Christine Jeffs
Ano: 2010

De pernas pro ar


Foi o clube da luluzinha assistir o filme,rs

As cenas engraçadas do filme são excelentes... Como aquela em que a Alice vai pra balada e também a cena em que ela está na torcida com a calcinha que vibra.
Em minha opinião, Ingrid Guimarães no quesito atuação salva o filme, os demais personagens como a Maria Paula, por exemplo, têm momentos críticos na narrativa.

Achei que a história é fraquinha, porém, a atuação brilhante e carismática da Ingrid, e tratamento de assuntos mais delicados que conduz a quebra de tabus relacionados a questões sexuais e respeito a diferenças são sem dúvida fatores que valem o ingresso e reforçam que o cinema brasileiro vem sempre se superando.


Curiosidades:

Ano: 2010
Direção: Roberto Santucci

domingo, 2 de janeiro de 2011

Cinema de Rua

O climinha de natal que tá indo embora, fica uma saudade dessa epóca.
Achei um vídeo ótimo no site do catraca livre.
Eles são muitos bons, vale a pena conferir os outros vídeos.

Ótimossssss, show!


Fim


Eu hoje acordei tão só
Mas só do que eu merecia
Eu acho que será pra sempre
Mas sempre não é todo dia

Esconderijo

Tudo que eu queria...
Era um lugar seguro
Pra chorar
Um canto pra desabafar
E o pranto não ter que cessar!

Tudo que eu queria
Era uma resposta para o meu desespero

Tudo que eu queria
Era gritar,
Era suplicar
Um amor por inteiro.

Sula

Falta

Tanta busca
Tanta espera
Cada ser único e particular
Todos buscando somente um lugar
Angustiante pensar em toda essa gente
Uns sofrem por amor
Outros de rancor
Há os que sofrem em demasia
Pela angustia da fome
E falta de poesia
Se for parar pra pensar
O mundo é tanto sofrimento e pesar

Mesmo assim, há coisas que o sustentam
Como a diplomacia em alguns eventos
Mas no fundo se bem olhar
Nunca saímos do mesmo lugar

Sula

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti

É comprido, mas vale a pena!
Tava olhando meus materiais antigos de escola, e na 5°série apresentei um trabalho sobre essa crônica. Bacana ver que depois de tanto tempo, hoje ainda tem o mesmo sentido.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Aos que têm saudade!!! Martha Medeiros

Em alguma outra vida,
devemos ter feito algo de muito grave,
Para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé , doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe,
Saudade de uma cachoeira da infância,
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais,
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu,
Saudade de uma cidade,
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre culpada,
Se ela tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na internet,
Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
Se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua detestando McDonalds,
Se ele continua amando, se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música,
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.

Martha Medeiros