terça-feira, 22 de junho de 2010

Na terça...

....De fato estou doente. Mas não é doença grave. Sofro de beleza. Não é por acidente que beleza rima com tristeza. Albert Camus dizia que a beleza é insuportável. Rafael Consinos-Asséns, poeta judeu-espanhol, pedia a Deus que não houvesse tanta beleza. Vinicius confessava que a beleza lhe dava vontade de chorar. A Adélia Prado confirma, dizendo que o que é bonito enche os olhos d'água. E a Cecília Meireles, aquela que " ás areias e gelos quis ensinar a primavera" se descrevia como " essa que sofreu de beleza." É isso: eu também sofro de beleza.
...Sem a minha tristeza eu ficaria aleijado - acho que até pararia de escrever. Porque a minha escritura é um contraponto musical á minha tristeza.
...Mas não é tristeza de tristeza, é tristeza de que haja tanta beleza, beleza que é demais pra mim...
...Minha tristeza é mansa e boa. Não se preocupem comigo. Diz a Adélia que " pode com a tristeza é quem não perdeu a alegria". Enquanto eu ouvir Bach estarei salvo.

Lindo! essa é uma das minhas expressões que se expressam nas lindas e sábias palavras do Rubem! eu definitivamente o amo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Uma segunda feira

Hoje, li sobre: É preciso ter coragem para ser feliz, é preciso ser valente
Texto que expressava toda a razão e emoção da vida.
Para buscar quem verdadeiramente é, e viver plenamente, é preciso um ato de muita coragem.
Penso que é mais difícil buscar a felicidade, a viver numa vida covarde, infeliz, insatisfeita...
Quando se pensa que algo não está bem, em algum momento, logo será tomado pelo impulso de mudar, e pelo medo...
Que caminho escolher?
Somos várias fases, e para cada fase e para cada momento, uma resposta...
Não há uma única forma, a vida é uma "metamorfose ambulante".
Transforma-se a fase, se transforma, e transforma o caminho.
E lendo parágrafo após parágrafo do texto sobre a coragem de viver,
Eu, Cada vez mais fui me sentindo encurralada, com o peito pulsante
E a respiração apertada.
Sabe suspiro de alívio?
Esse não era.
E sim suspiro por levar um peso no peito, engolir a seco
Parece que algo falta
Um grito irremediável fica preso na garganta
Tomando conta do meu corpo, sangue, alma e coração
Fico a me perguntar e ao mesmo tempo
Sem saber o que preciso achar
Algo está a me perturbar
E eu não tenho coragem, força pra encarar
Preciso me curar
Revestir-me
Sair de mim
Esquecer para lembrar
E recomeçar...


Sula

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Na quinta feira...

Tenho aqueles dias tipícos de trabalhador... acorda cedo, pega trem lotado, bate o ponto, as vezes chega atrasado.


Voltando pra casa, fui hoje, não muito diferente dos demais dias, quase pisoteada.


Se pararmos pra pensar, dá pra associar o metrô com o filme do livro de Saramago, "O ensaio sobre a cegueira". Impressionante como o individualismo das pessoas, se mostra num contexto onde cada um tem que ser agressivo para defender o seu espaço, mesmo que seja em detrimento do outro.
Falo isso, me incluindo...Estamos cada vez mais individualistas, e em contextos como esse é que vemos a verdadeira natureza do ser, pois é fácil ser gentil, ser educado, ser altruísta ou falar de, em um ambiente propício, mas em momentos de necessidade, assim como foi no filme e assim como é na vida real, é que vemos quem somos...

Sula

Na quarta feira...

..Tantas coisas mais que quero escrever aqui...porque esse meu tempo é tomado pelo tempo alheio? e porque eu deixo? e porque preciso?
Hoje não estava muito bem, acho que inferno astral que antecede o aniversário, desloquei o que antes comprava em sapatos, hoje para livros, comprei 3, do mesmo autor, o Rubem Alves, não me importa, eu gosto sempre de gostar das mesmas coisas....Gosto dessa coisa de manter, sei lá porque, talvez seja medo de perder, se perder... gosto de manter intacto o meu gosto, até aceito novos sabores, que depois de provados também se tornam intactos como meus amores. Sou assim.
Quero a amizade antiga, quero a melodia da fita, quero a saudade dos momentos...
Tenho a alma velha.


Sula

domingo, 13 de junho de 2010

Vida de cachorro - Charles Chaplin

Paralelo entre a vida de um vagabundo e de um cachorro, mostra de maneira cômica e afetuosa a cumplicidade de ambos, ora um sendo o salvador, ora sendo salvo pelo outro. Num baile, uma moça que é explorada pelo proprietário do salão junta-se à dupla.
Filme de estrutura simples, porém com cenas que ficarão na história do cinema. Comparar o vagabundo com um caozinho, por si só já é motivo para deixar o espectador triste. Chaplin não só nesse, mas em seus filmes tem a capacidade de fazer-nos rir e chorar.
Direção: Charles Chaplin
Ano: 1918
País: Estados Unidos

Festa de família

A história se passa num hotel-fazenda na Dinamarca, quando uma família se reúne para comemorar o aniversário de 60 anos do patriarca. Contudo, durante o evento, o filho mais velho Christian, irmão gêmeo de Linda que se suicidou, se ergue e revela na infância ter sido molestado sexualmente pelo pai junto com sua irmã. Disto, decorre uma série de conflitos que afloram, na medida em que a festa avança pela noite.
"Festa de Família" é uma crítica aos valores burgueses, à hipocrisia social, ao preconceito, aos estereótipos.

Para mim foi surpreendente o desenrolar do filme. Como não leio as sinopses antes de assistir, não imaginava que o filho, em meio a festa, na frente de todos da família, iria contar sobre um segredo como esse.
Muito bom!
Ótimo roteiro!
lançamento: 1998 (Dinamarca)
direção: Thomas Vinterberg
atores: Ulrich Thomsen , Henning Moritzen , Thomas Bo Larsen , Paprika Steen , Birthe Neumann

Ladrões de Bicicleta

Em Roma um trabalhador de origem humilde, Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), é razoavelmente feliz e trabalha para sustentar a família. Precisando ter uma bicicleta para pegar um emprego, sua esposa vende os lençóis de casa, para que ele tenha uma bicicleta para o trabalho.
Entretanto a bicicleta é roubada, para seu desespero.
Assim,juntamente com seu filho Bruno (Enzo Staiola), Antonio a procura desesperadamente pela cidade.Após está imerso na tragédia pessoal, como não consegue encontrá-la, ele resolve cometer o mesmo crime, roubar uma bicicleta.
Mas Ricci fracassa e é pego.
Num momento do filme, ele está num cenário com centenas de bicicletas circulando em sua volta, como objetos-fetiches. Nunca um homem necessitou tanto de uma bicicleta. Nunca tantas bicicletas desfilam diante de um homem. É a situação paradoxal construída pela cenografia de Vittorio De Sica. Talvez seja a situação trágica do paroxismo da sociedade burguesa que acumula tanta riqueza social no meio de tanta miséria humana.
Antonio Ricci é o despossuido absoluto. Não apenas dos meios de produção e do instrumento de trabalho, mas despossuido de perspectivas morais. Ele está à deriva moralmente, por isso decidiu cometer o furto de bicicleta.
O filho Bruno presencia tudo e de certo modo, contribuiu para que ele não fosse preso. A vitima do furto da bicicleta decidiu solta-lo. Talvez sensibilizado pelo filho Bruno que exclama “Papai”, o homem disse: “Solte-o. Deixe para lá”. Mas o pior para Ricci foi a tragédia moral que se abateu sobre ele. Um dos transeuntes que o pegaram no ato de furto disse: “Belo exemplo para o seu filho. Não tem vergonha?”. Ricci não é preso. Outro diz, quase com ironia atroz: “Vá para casa. Está com sorte”.
lançamento: 1948 (Itália)
direção: Vittorio De Sica
atores: Lamberto Maggiorani , Enzo Staiola , Lianella Carell , Gino Saltamerenda , Vittorio Antonucci

Escrevo o que não Sou

Há uma pergunta que, quando feita a um poeta ou escritor,dói mais que picada de escorpião.A mim, pessoalmente, nunca fizeram.Mas fizeram a amigos meus.Ele é do jeito mesmo como ele escreve?”
É uma pergunta nascida do amor: acharam bonitas as coisas que escrevi e agora estão curiosos para saber se me pareço com o que escrevo.
Como disse, nunca me fizeram a pergunta, diretamente.Mas eu respondo.
“Não, eu não sou igual ao que escrevo”.Sou um fingidor.
Quem disse isso, que o poeta é um fingidor, foi Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor.Finge tão completamente,
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.Fingir é palavra feia.Sugere uma mentira, com o intuito de enganar. No mundo de Fernando Pessoa ela tem um outro sentido. Fingimento é aquilo que faz o ator no teatro: para representar ele tem de “fingir” sentimentos que não são dele. E finge tão completamente que sente, realmente, uma dor que não é dele, mas de um personagem fictício, ausente.Assim é o poeta.Como pessoa comum, ele sofre.Essa pessoa sofredora não sabe escrever poemas.Ela só sabe sofrer.Mas nessa pessoa que sofre mora um outro, o poeta, o duplo, heterônimo.Esse poeta olha para si mesmo, sofredor, e “finge”: deixa-se possuir por aquela dor que é dele como se fosse de um outro:
“chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”.Sou um fingidor.O que escrevo é melhor que eu.Finjo ser um outro.O texto é mais bonito que o escritor.Fernando Pessoa se espantava com isso.Ele tinha clara consciência de que ele era muito pequeno quando comparado com a sua obra.Num dos seus poemas ele diz o seguinte:
Depois de escrever, leio…
Por que escrevi isto?Onde fui buscar isto?De onde me veio isto?Isto é melhor do que eu…Vinha-lhe então a suspeita de que aquilo que ele escrevia não era obra dele, mas de um outro:Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta com que alguém escreve a valer o que nós aqui raçamos?Contaram-me que ele, Fernando Pessoa, certa vez, aceitou encontrar-se com Cecília Meireles, e marcaram lugar, data e hora para o dito encontro.Cecília compareceu e esperou.Pessoa não foi e mandou, no seu lugar, um menino com uma desculpa esfarrapada. Esse incidente sempre me intrigou.Será que Pessoa era um grosseiro indelicado?Depois, lendo o Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, encontrei uma curta afirmação que esclareceu tudo:“Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver.”Ao marcar o encontro com Cecília, movido pela delicadeza ou entusiasmo, ele se esqueceu disso.Foi só na hora que lembrou.Cecília amava os seus poemas.Na ausência, certamente, fizera aquilo que todos fazem:imaginou que o poeta se parecia com os seus poemas.Agora, em algum hotel de Lisboa, ela se preparava para se encontrar com a beleza dos poemas na sua forma viva, verbo feito carne.A decepção seria muito grande.“Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver”
Assim, para poupar Cecília da decepção, ele preferiu não aparecer.Àqueles que fazem essa pergunta a meu respeito, que imaginam que eu possa ser parecido com o que escrevo, aconselho:“Não compareçam ao encontro. Fiquem com o texto.”Não é mentira, não é falsidade:a poesia é sempre assim.A poesia não é uma expressão do ser do poeta.A poesia é uma expressão do não-ser do poeta.O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta.Escrevo porque tenho sede e não tenho água.Sou pote.A poesia é água.O pote é um pedaço de não-ser cercado de argila por todos os lados, menos um.O pote é útil porque ele é um vazio que se pode carregar.Nesse vazio que não mata a sede de ninguém pode-se colher, na fonte, a água que mata a sede.Poeta é pote.Poesia é água.Pote não se parece com água.Poeta não se parece com poesia.O pote contém a água.No corpo do poeta estão as nascentes da poesia. Escher, o desenhista mágico holandês, tem um desenho chamado Poça de Lama:numa estrada encharcada pela chuva um caminhão deixou as marcas dos seu pneus, onde a água barrenta se empossou. Coisas feia e sujas, as marcas dos pneus de um caminhão, cheias de água barrenta: nenhum turista seria tolo de fotografar uma delas, quando há tantas coisas coloridas para serem fotografadas.Pois Escher desenhou uma delas.E o que ele viu é motivo de espanto:na superfície de lama suja, refletidas, as copas dos pinheiros contra o céu azul.Pensei que a poesia é isso:poça de lama onde se reflete algo que ela mesma não contém.
A copa dos pinheiros contra o céu azul não está dentro da lama, não é parte do ser da lama.Apenas reflexo: mora no seu não-ser.Pensei que assim é o poeta: poça de lama onde o céu se reflete.Nietzsche, escrevendo sobre a poesia de Ésquilo, diz que ela “é apenas uma imagem luminosa de nuvens e céu refletida no lago negro da tristeza”.E Fernando Pessoa, no poema daquele verso que todo mundo canta - Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena , diz o seguinte: Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.É nessa contradição: o céu se fazendo visível, refletido, na poça de lama, no lago negro da tristeza, no perigo e no abismo do mar.Não. Não escrevo o que sou. Escrevo o que não sou. Sou pedra. Escrevo pássaro. Sou tristeza. Escrevo alegria. A poesia é sempre o reverso das coisas.Não se trata de mentira. É que nós somos corpos dilacerados - “Oh! Pedaço arrancado de mim!”
O corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas, presença de ausências, daí a saudade, que é quando o corpo não está onde está…O poeta escreve para invocar essa coisa ausente. Toda poesia é um ato de feitiçaria cujo objetivo é tornar presente e real aquilo que está ausente e não tem realidade. Enquanto pensava sobre essa crônica ouvi, por acaso, aquela balada que diz: "like a bridge over troubled waters" “como uma ponte sobre águas revoltas…” Letra e música sempre me comoveram.
Na liturgia do casamento do meu filho Sérgio com a Carla, liturgia que preparei, pedi ao Décio cirurgião pianista que tocasse essa canção: pois isso é o máximo que alguém pode ser para a pessoa amada: ponte sobre águas revoltas. Pensei, então, que eu sou “águas revoltas” (onde eu mesmo quase me afogo). O que escrevo é uma ponte de palavras que tento construir para atravessar o rio. Assim, considero respondida a pergunta: não sou igual ao que escrevo. Guardem o conselho de Fernando Pessoa. É mais seguro não comparecer ao encontro.

Rubem Alves

sábado, 12 de junho de 2010

Candido Portinari - Pinacoteca

Cândido Torquato Portinari
Candido Portinari
Pintor brasileiro
30/12/1903, Brodósqui (São Paulo)
06/02/1962, Rio de Janeiro (RJ)
Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.
Desobedecendo a ordens médicas, Portinari continua pintando e viajando com freqüência para exposições nos EUA, Europa e Israel. No começo de 1962 a prefeitura de Milão convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. Trabalhando freneticamente, o envenenamento de Portinari começa a tomar proporções fatais. No dia seis de fevereiro do mesmo ano, Cândido Portinari morre envenenado pelas tintas que o consagraram.
Na pinacoteca, A mostra reúne cerca de 60 obras, entre pinturas, desenhos e gravuras, realizadas entre 1938 e 1958.A exposição trata das relações tecidas ao longo do tempo entre Candido Portinari e Raymundo Ottoni de Castro Maya, que resultou na acumulação do maior acervo público do pintor, com 168 obras originais do artista

Pinacoteca
Praça da Luz - SP

A tempestade - Cia Chapitô

Comédia baseada na peça mais visual de William Shakespeare.História de magia, monstros e espíritos numa ilha encantada num mar distante. Conta o que aconteceu nesse mundo de sonho, quando a inocência, o amor, o medo, a malvadez e a vingança entram em choque sob o poder de um grande mágico.

Simplesmente fantástica!!!! A companhia faz uso das técnicas de clow, os atores têm uma expressão incrível, e com apenas um lençol no cenário conseguem transformar o espaço de forma constante inteligente e engraçada.
Ótima a forma como mudam as cenas e os personagens.
Todos são excelentes. Normalmente em um bom espetáculo, elejo um preferido, nesse caso, muito difícil saber quem é o melhor.
Autoria: Criação Colectiva Companhia do Chapitô (Portugal)
Encenação: John Mowat
Interpretação: Jorge Cruz, Marta Cerqueira, Tiago Viegas

As melhores coisas do mundo

Com direção de Laís Bodanzky e roteiro de Luiz Bolognesi, o filme é inspirado na série de livros "Mano", de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. Muito bacana como o filme trata de forma natural as questões da adolescência, conseguimos nos enxergar e lembrar dessa fase em cada persongem, fala, cenário. O filme traz de maneira muito inteligente as questões sobre o sexo, homossexualidade, drogras, depressão, amor... Uma cena muito boa por exemplo, é quando os ovos são atirados contra a parede pela atriz que faz o papel de mãe: Denise Fraga.
Além disso, impressiona a forma sincera e espontânea dos diálogos que são formados por atores estreantes que foram selecionados das escolas de São Paulo, ótima idéia, talvés tenha ajudado a tornar o filme super presente e real.
Para quem tem ainda aquela idéia ruim do cinema nacional, assistir esse filme é uma oportunidade de rever os seus conceitos.
Muito bom, adorei o filme e o debate que rolou após o filme com a diretora e alguns atores no Itaú cultural, que também está de parabéns pelas programações.

 
Elenco: Caio Blat, Paulo Vilhena, Francisco Miguez, Gabriela Rocha, Denise Fraga, Fiuk, Gustavo Machado, José Carlos Machado.
Direção: Laís Bodanzky