segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sozinho

“Eu sozinho sou mais forte, minha alma mais atrevida. Não fujo nunca da vida, nem tenho medo da morte.
Eu sozinho de verdade, encontro em mim minha essência, não faço caso de ausência e nem me incomoda a saudade.
Eu sozinho em estado bruto, sou força que principia, sou gerador de energia de mim mesmo absoluto.
Eu sozinho sou imenso, não meço nunca o meu passo, não penso nunca o que faço e faço tudo o que penso.
Eu sozinho sou a esfinge pousada no meio do deserto que finge que sabe o que é certo, e sabe que é certo que finge.
Eu sozinho sou sereno e diante da imensidão de toda essa solidão o mundo fica pequeno.
Eu sozinho meu caminho: sou eu, sou todos, sou tudo. E isso sem ter, contudo, jamais ficado sozinho.”
Paulo César Pinheiro

Escolha

“Porque a tudo dou fim depois de dura conquista, é que se a dor me contrista não tenho pena de mim.
Não é que eu seja ruim e nem sequer masoquista, mas é meu ponto de vista, mereço sofrer assim.
Mas se pra que o verso exista, tiver que a dor dizer sim, então serei fatalista: A dor que acenda o estopim e o homem mate-me a fim de que não morra o artista.”

Paulo César Pinheiro

domingo, 22 de setembro de 2013

A Casa dos Homens

Sobre a peça, abordou de maneira ousada e desafiadora a questão da sociedade machista em que vivemos.
Textos como esses são importantes para romper com padrões de ações e oferecer outras possibilidades de reflexão sobre o nosso contexto.
Gostei muito das cenas. Marcante a cena da delegacia da mulher, em que a delegada, questiona o porquê a reclamante de abuso sexual estava na rua aquela hora, já que sabia que algum delito poderia acontecer. Ou seja, a própria delegada num ambiente de apoio à vítima mulher, argumentou embasada no machismo que está impregnado em nossa cultura. Oras essa, para a delegada a mulher que fique em casa e use roupas adequadas, ou então, ela mesma será culpada pelo abuso que poderá sofrer.
Com isso, é importante também pensar que os (as) próprios agentes públicos muitas vezes não têm um ambiente que possibilite refletir sobre as questões da mulher, mesmo trabalhando em um lugar que preste atendimento para essas. As pessoas são alienadas continuamente pelos meios comuns de comunicação, escola, ambiente de trabalho... que reproduzem um padrão de comportamento pejorativo no que refere-se a mulher. 
Os meios de comunicação estimulam o patriarcado com suas propagandas, novelas, filmes. A escola ensina sobre os brinquedos de meninas e de meninos separadamente. As meninas não podem brincar de carrinho, os meninos muito menos podem brincar de bonecas. As meninas têm que cozinhar no fogãozinho de brinquedo, já os meninos jogam vídeo game.
O menino também ao longo da vida é oprimido ao ser ensinado que "homem é forte"; é ensinado que não pode chorar, pois é coisa de "maricas"; não pode usar rosa; não pode brincar de casinha; não pode brincar de boneca.
E ao ser oprimido, como diria o grande Paulo Freire: Vira o opressor. Passa então, a ser opressor da mulher. Ele é quem pode tudo. A mulher é frágil e está submetida as suas condições.
Mas homens e mulheres são iguais criaturas humanas. A questão da humanidade deve preceder a questão de gênero. E a busca de igualdade não refere-se somente ao trabalho e divisões de tarefas domésticas, mas sim, igualdade no que tange o respeito pelo ser humano, independente de ser homem ou mulher.
No entanto, o homem também tem que ser libertado dos padrões de comportamento a que foi submetido. Por isso, feminismo não deve ser a luta da mulher contra o homem, pois, assim, iríamos para a outra esfera do preconceito. O feminismo tem que ser a luta pela quebra desse pensamento estagnado a que nós somos estimulados. Devemos lutar por esclarecer nosso direito ao respeito, nosso direito por igualdade de direitos e direitos esses que são óbvios. Direitos que são do branco, direitos que são do negro, direitos do baixo, direitos do alto, direitos do novo, direitos do velho. Direitos iguais e respeito que independe da questão de cor, sexo, raça, religião. 
 
Infelizmente nós somos ensinados a tratar o respeito de acordo com a circunstância do outro. A condição de ser humano não é o suficiente para ter o respeito. O seu estado (rico, pobre, branco, negro, mulher, homem) é que vai ditar o respeito e direito que terá.


Se é pobre e negro não merece respeito;
Se é rico e elegante merece até espumante;
Se é mulher, vista-se formosa ou então, leva um grito desrespeitoso de gostosaaa;
Se tem dinheiro e status financeiro vira até o meu herdeiro;
Mas se está desempregado seu lugar é do outro lado.


Após a peça houve o debate "Feminismo, Cultura e Política" com a Fernanda da Cia Kiwi de teatro.
Noite boa e proveitosa.
Peça: A Casa dos homens
Coletivo 2° Opinião
Sede Luz do Faroeste

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ensolarar

Mais um dia de indignação, porém de esperança, amor, troca e inspiração.
Com parceira Vera no projeto junto a Penitenciária Feminina de Santana.
 
Que um dia esse sol que nos ilumina
Possa brilhar com igualdade para todas as pessoas.
Que um dia esse sol que nos ilumina
Possa refletir justiça e iguais oportunidades.
Que um dia esse sol que nos ilumina
Possa aquecer todos os corações e acabar com todo esse padecimento.
 
Sula.

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Família Vende Tudo


Excelente!
Por Sérgio Vaz (poeta da periferia)

Vendo barraco de madeira
com vista para o córrego
com água e esgoto desencanado
dois por quatro, sem tramela
com buraco
para o frio em entrar.

Devido a pressão
vendo jogo de vazias panelas
frigideira sem óleo
vida sem tempero
ronco de barriga
insônia da miséria.

Vendo choro de mãe
com criança no colo
na fila do hospital
dessa vida sem bula
sem cura
sem melhoral.

Vendo abandono de pai:
“Ave-Maria, pai nosso que estai no céu,
como batia, esse filho da mãe!”
Vendo natal sem brinquedo
sem bola nem boneca
uma foto amarelada
do tio Noel
puxando trenó sem cavalo
nas ruas da cidade.

Vendo vaga em escola ruim
de criança que cresce sem creche,
sem merenda, sem leque
raiz dos problemas
de todos meu pobrema.
do destino em xeque.

Vendo sapato furado,
chinelo de dedo e calos nos pés.
Vendo fé cega,
lágrimas enferrujadas
calos nas mãos
de orações não atendidas.

Vendo anjo da guarda
surdo-mudo
sem experiência
contra a pobreza.

Vendo um corpo falido
cheio de rugas
que se abriram como estradas
nessa sina sem rumo, sem saída,
de vida inteira, quebrada...

Vendo rim
fígado, coração
e sonhos dormidos.

Vendo alegria de ano novo
primeiro amor, nunca usado.

Vendo a porra toda.

Vendo desemprego, unha desfeita,
dores nas costas, no peito e dores de amores.

Vendo menina grávida
guarda-roupa sem roupa
vendo menino
no semáforo
equilibrando o limão
da vida amarga.

Vendo bala perdida
que encontra sempre a molecada
nas esquinas escuras
desse destino claro.

Vendo samba de Adoniran
onde a favela fica bonita
com saudosa maloca e tudo,
já tem luz elétrica esse lugar escuro
onde o político se ilumina.

Vendo futuro
que não vale nada
por isso leva
o passado de presente.

Vendo racismo
essa escola de preto no branco
que desfila na avenida Brasil
o ano inteiro depois do carnaval.

Tinha até sorriso e felicidade pra vender
mas como ninguém nunca usou…
se perdeu nos becos da favela.

Vendo alegria,
mas tem que levar a tristeza também.
Família vende tudo,
antes que o incêndio
acabe com ela.