Para celebrar o seu centenário!
Para isso fomos feitos:
Para isso fomos feitos:
Para lembrar
e ser lembrados
Para chorar
e fazer chorar
Para
enterrar os nossos mortos —
Por isso
temos braços longos para os adeuses
Mãos para
colher o que foi dado
Dedos para
cavar a terra.
Assim será
nossa vida:
Uma tarde
sempre a esquecer
Uma estrela
a se apagar na treva
Um caminho
entre dois túmulos —
Por isso
precisamos velar
Falar baixo,
pisar leve, ver
A noite
dormir em silêncio.
Não há muito
o que dizer:
Uma canção
sobre um berço
Um verso,
talvez de amor
Uma prece
por quem se vai —
Mas que essa
hora não esqueça
E por ela os
nossos corações
Se deixem,
graves e simples.
Pois para
isso fomos feitos:
Para a
esperança no milagre
Para a
participação da poesia
Para ver a
face da morte —
De repente
nunca mais esperaremos...
Hoje a noite
é jovem; da morte, apenas
Nascemos,
imensamente.
Vinicius de Moraes
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