quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Amor


Cheguei com antecedência ao instituto, então, me sentei em um banco próximo de uma árvore para ler um pouco. A medida que ia virando as páginas, percebi que tinha uma formiga na minha mão. Tirei a formiga e continuei a leitura. Logo, outra formiga. Olhei minha mão com mais atenção, e mais algumas formigas. Imediatamente me levantei me debatendo e coçando, pois, tenho certa agonia desse bichinho pequeno que me faz ficar com o corpo inteiro arrepiado e incomodado. Então, fui para a sala. Já sentada, na espera do inicio do filme e ainda com coceiras pelo corpo inteiro, percebi uma movimentação no meu rosto, próximo ao meu cabelo. Puta! Outra formiga. Peguei subitamente, como que num reflexo da aflição de sentir aquele inseto passeando em mim. Então, esmaguei pegando-a pelo indicador e o polegar. Me levantei morrendo de vergonha. Já pensou as pessoas vendo formigas descerem pela minha cabeça? Fui ao banheiro. Me debati inteira. Me olhei no espero. Baguncei meus cabelos. Pulei para que elas caíssem ali mesmo. Voltei e me sentei de novo sem sossego. E logo, passado alguns minutos: outra danada novamente desce da minha cabeça em direção ao meu rosto. Esmaguei a formiga. Fiquei desolada. Poxa! Eu tinha ficado tão pouco tempo sentada no banco, como que elas conseguiram entrar até nos meus cabelos? 
As coceiras e incômodos perduraram até eu ir embora. Mas não senti mais nenhuma formiga descendo da minha cabeça.

Enfim, sobre o debate
Eu  Já tinha assistido a esse filme, mas quis ir à USP para conferir a discussão sobre a morte.
Como todo debate nos faz pensar pontos que não tínhamos percebido antes.

O homem ser cuidador da mulher. É uma questão importante, pois, rompe com a visão de que só a mulher é a cuidadora.
A água corrente da torneira. Sempre a torneira fica aberta com a água sendo esbanjada. Não é como se ali fosse simbolicamente a vida? Fluindo...Correndo... Indo embora.
Outro momento, em que o pombo é pego. Ele cobre o pombo com uma manta. Agarra o pombo, acaricia. Depois, escreve que enfim conseguiu pegar o pombo, mas que no final o deixou ir embora. Isso acontece quando ele já tinha sufocado a mulher dele. Então, não parece que pegar o pombo representa que ele pegou a vida. Como ele estava fazendo ao cuidar da mulher dele. Tentando capturar a vida dela. Deixá-la viva. Mas no fim, ele deixou o pombo ir embora, assim, como também deixou sua mulher ir.
Momento em que ele conta a história que foi para uma espécie de acampamento e a sua mãe diz pra ele mandar cartões postais com estrelas, caso o acampamento não estivesse bom e quisesse ir embora dali. Ele contou que fez um cartão postal cheio de estrelas e mandou para a mãe. Ele comenta que nunca mais viu esse cartão e quem dera encontrar de novo. Como se esse cartão pudesse falar sobre a situação em que ele ou ela estava e queria sair. Em seguida, ele sufoca Anne. Assim, como a sua mãe também o libertou do acampamento, depois, de ter recebido o cartão, ao sufocá-la ele se liberta e liberta Anne da situação angustiante e sofrida que estava.
Talvez a forma que ele a matou sirva até para nos propor uma experiência sensorial desse lado brutal que é a morte.

2013
Dirigido por Michael Haneke
Com: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert mais
Gênero: Drama
Nacionalidade: França , Alemanha , Áustria

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pelo fim da revista vexatória

Ahhh se todos os juízes fossem como João Marcus Buch.
Homem admirável. Sem dúvida fez toda a diferença nesse debate.

Sobre o seminário, alguns pontos que quero colocar e outros que se relacionam com o que ouvi nesse dia.

É claro que há muitos presos e é preciso disciplina, mas disciplina não está relacionada ao desrespeito e violação dos direitos. 
Hoje a realidade da revista nos presídios implica em xingamentos ao corpo, xingamentos pessoais. Crianças são chamadas de "bandidinhos" e as mulheres "vagabundas, putas, safadas". Muita gente deixa de ir ás visitas pelas humilhações. Há uma invasão ao corpo e dignidade humana, principalmente para as mulheres.
O agente penitenciário é tão sofredor quanto, pois passa a ser preparado não para a função de administrador das relações humanas, mas sim, para a função de carrasco, figura opressora e punitiva tanto dos presos, como dos visitantes. Os agentes são treinados continuamente e se tornam embrutecidos pelo sistema prisional, sistema esse que em sua missão não articula e pratica a ressocialização para o resgate da dignidade e potencialidades das pessoas em situação de cárcere, mas sim, age a favor da punição, alienação, situações degradantes e contínuas ações violentas que cooperam para que esses indivíduos saiam desses locais muito piores do que entraram. É percebido que quem sofre o desrespeito e violação dos direitos não é somente o preso, mas também a sua família. Há uma inspeção marginal. Marginaliza o sujeito constituindo no outro aspectos pejorativos, e isso decerto influencia em sua construção de identidade e sua atuação na sociedade.
Há uma visão de que se a pessoa errou é merecedora de ser desrespeitada e ter seus direitos transgredidos. Assim, também os familiares muitas vezes são conformados com essa situação, pois, foram contextualizados a pensarem que é esse o sistema e é isso que merecem. O sistema punitivo que não ressocializa não vai diminuir os delitos, assim, como a revista vexatória não reduz a entrada de drogas e celulares nos presídios, ao contrário disso, é mais um agravador dessa realidade prisional com consequências sociais e efeitos colaterais negativos para toda a sociedade que é quem vai receber esse preso em liberdade e conviver com as suas famílias.
Outra questão nos presídios é a manutenção do patriarcado. Os presídios femininos não têm muitas visitas, ao contrário dos presídios masculinos. É uma especie de "lei" para as mulheres que têm seus homens presos, não podem abandoná-los e têm que visitá-los. Já as mulheres presas muitas vezes são abandonadas, não veem seus filhos, pois depende de alguém para levar. Não existe visitas íntimas em presídios femininos. E nas revistas o corpo da mulher está muito mais disponível para ser invadido. Os homens em revistas, muitas vezes não têm que tirar a cueca. A mulher tira toda a roupa, mesmo que esteja menstruada; se agacha e com um espelho os agentes olham o seu ânus e por dentro da vagina.
Cabe ao Estado instalar o Scanner corporal para a revista e treinar os agentes penitenciários de maneira humana e reflexiva para mudar a realidade dos presídios. Isso solucionará muitos dos seus problemas também, pois, os funcionários também vivem num esquema onde são oprimidos pelo sistema prisional e passam a ser opressores das pessoas em situação de cárcere.

http://www.conectas.org/pt/acoes/justica/noticia/5443-seminario-debate-revista-vexatoria

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Espaços

Criei asas para dentro de mim
Endureci?
Me enchi de coragem para viver a minha vida
Me afastei dos outros pra me aproximar de mim
Me perdi?
Fiquei sem sentidos
Fiquei sem amigos?
Quando passei a não pertencer mais
Quando fui esquecida
Fiquei só?
Quando me dei conta, que o que conta são as coisas pequenas
Quando a emoção foi pra razão?
Quando perdi a rima e algumas coisas que anima?

Nessa busca de sentidos, com sentidos, que não sei se faz sentido
Vivo a buscar, vivo a me perder pra me achar
Uma constante caminhada em busca da alma lavada
Eu ando, eu ando pelo mundo.
Expondo o meu modo, mas canto para quem?
Eu ando pelo mundo, mas meus amigos, cadê?


Sula 
Nas últimas linhas: Adaptação da música da Adriana Calcanhoto

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Meditar!

A concentração nos pensamentos negativos em relação a vida e a nós mesmos, são nada mais que OBSTÁCULOS.
E os obstáculos impedem que possamos ver com clareza as coisas boas que temos em nós e na vida.
Quando a gente concentra só no que é ruim, perdemos tanta energia e tanto tempo, que não avançamos.
Aprender a escolher onde concentramos os pensamentos. Esse é um dos lances de meditar!

http://casadedharmaorg.org/

Casa de Dharma
Rua Augusta, 2333 cj.09 - 5º andar - Jardins
NÃO TEM ELEVADOR

sábado, 19 de outubro de 2013

Exposição Resistir é Preciso

Depois de ver no CCBB a exposição sobre a luta contra a ditadura militar feita pelo instituto Wladimir Herzog, curtimos a degustação de variadas cervejas, com uma calorosa discussão que "atacou pessoalmente" o meu amigo Stanley. rs

Na exposição, eis que encontramos o poema dele.

"De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
A garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção."

Vinicius de Moraes

 





CCBB SP
   Dia 12 de outubro de 2013 a 6 de janeiro de 2014.
 
 
Cervejaria Karavelle
Alameda Lorena
Cervejas que mais gostei foram a Premium Pilsen e a Keller.
Ambiente bacana, no entanto, no que refere-se a meus perfis de pessoas preferidas, ainda gosto mais do meu porão Lapeju e das redondezas do baixo Augusta.
Mas foi bom para variar.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

37° Mostra Internacional de Cinema

E dada a largada para a 37° mostra internacional de cinema.
Está um absurdo de lindo a capa desse ano.
Ontem tive o prazer de assistir Dr. Fantástico e Barry Lyndon na maratona Kubrick no Cinesc.
Em seguida do último filme, houve debate com a presença forte e marcante da Christiane Kubrick.

Mas é inacreditável os ingressos custarem tão caro, sendo que esse é um evento com muitos patrocínios. Até o material de distribuição com a programação é cobrado.

No intervalo de um filme para o outro, tive o privilégio de encontrar com uma figura chamada "Verdy". Um senhor que encontro há três anos pela região da Augusta. Ele é vendedor de livros e toda a bugiganga que possa lhe trazer algum dinheiro para infelizmente sustentar o seu vício pelo crack.
Já almocei com ele há dois anos atrás; ele já me deu uma carona num guarda chuva quebrado; Já tomamos café juntos e mesmo assim, todas as vezes que ele me encontra é como no filme "Como se fosse a primeira vez", ele nunca se lembra de mim. E em nossa conversa ele muitas vezes pergunta coisas que ele já perguntou antes. Ele relata que teve aneurisma e outros problemas que comprometeram a sua memória.
Mas o cara é um gênio. De uma tamanha espontaneidade e honestidade. Conhecedor de todos os filmes, atores, diretores. Consegue discutir com muita sensibilidade e propriedade. Parece ser de uma família de intelectuais, pelas histórias que me conta.
Tomamos mais um café juntos e comemos pão de queijo e bolo de café. Ele falava com todos que passavam. Elogiando as roupas, cabelos e puxando assuntos interessantes a respeito de cada um que por ali passava. Inicialmente algumas pessoas olhavam com repúdio, mas logo se rendiam a simpatia do Verdy. Normalmente quando ele fala de algo que considera muito bom, com entusiasmo ele diz: "Jack Nicholson é um luxo". rs Sempre dava risada quando ele falava "luxo". E muitas vezes ele me chamava de "Santinha". "Não santinha, minha cabeça não é muito boa, você sabe!".
Infelizmente o vício está acabando com ele. Está com 67 anos. Com dificuldades de andar e bem magro. Não consegue se livrar do uso das drogas, apesar de ter ajuda da irmã. Ele me disse ontem á respeito da morte: "Eu preciso ir embora, tenho que ir". No que respondi: "Eu não queria que você fosse".
Tentamos um ingresso gratuito para ele entrar, mas o pessoal da Mostra não liberou. Nos despedimos depois de mais de duas horas conversando e mais uma vez ele se foi. Dessa vez como das outras, não sei quando ou se o encontrarei novamente.

"A vinheta da 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi criada por Amir Admoni com sonorização de André Abujamra; a animação é baseada na aquarela "Ensaio na Chuva" de 1974, feita pela esposa do cineasta Stanley Kubrick, Christiane. A aquarela foi feita durante as filmagens de "Barry Lyndon", na Irlanda, e representa o diretor e um de seus atores nos ensaios antes das filmagens."



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Poema de Natal

Para celebrar o seu centenário!

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

Quietude


Sem intenção
A sensação de bem estar provoca emoção.

Sem entender porque
A alegria vem sem nada dizer

Sem nada pra contar
A felicidade se instala e leva o choro pra lá

Sem motivo pra rima
Me vem a palavra que sublima

Sem nova ação
Esse vazio me provoca excitação

Tão sem querer
Me inspira a poesia pela graça e não pelo que teima em doer.


Sula.

Minhas Tardes com Margueritte

Margueritte: ...Assim pensa o autor, Romain Gary que adorava sua mãe.
Germain: Por quê. Não é uma história inventada?
Margueritte: Não, é a história da vida dele.
Germain: E se tivesse sido o contrário?
Margueritte: O contrário?
Germain: Sim. E se ele não fosse amado pela mãe, o que teria acontecido?
Margueritte: Sei lá. Se uma criança não recebe amor durante a infância, precisa descobrir tudo depois, não?
Germain: Não sei nada sobre isso. Não sei.

Margueritte lendo pra ele é lindo demais.
As cenas que voltam para a infância do Germain foram essenciais para o sentido do filme. Prato cheio para trabalhos e reflexões em psicologia.

Amei.


Direção: Jean Becker
França / 2010
 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Passageiro


Queria escrever algo bonito sobre a vida.
Queria escrever alguns caminhos, alguns passeios, alguns autores, algumas atitudes para se realizar e ser mais feliz.
Mas, paro e penso sobre o quanto tudo muda tanto e todo o tempo.
Penso no quanto as coisas são efêmeras e como a felicidade é como um rio: fluído e imprevisível.
Não se sabe ao certo para onde vai, só sabemos que corre.
E essa sensação de natureza me faz ter mais tranquilidade.
Tranquilidade para a felicidade, para a tristeza, para a raiva, para a angústia. Tranquilidade para todos esses estados da nossa vida que por mais que desejamos ou não que sejam permanentes, só há a certeza de que fluirá como o rio. Vai embora.
E essa certeza de que irá, me dá um sossego danado para aproveitar o que está.
Aproveite com tranquilidade até dos estados de tristeza, pois, eles irão.
Empenhe-se em dizer e viver todas as verdades que julgar sobre seu estado de felicidade, mas lembre-se que também esse é como o rio.
Se estou num êxtase de paixão e felicidade, logo estou na angústia e desespero.
Se fico triste e raivoso, logo ficarei feliz e esperançoso.
Não há verdade permanente na vida.
A verdade é transitória de acordo com o rio dos nossos sentimentos.

Sula.

O Homem que Ri

Poxa vida, que filme bacana!
Mas acho que foi menor do que poderia ser em relação a trazer uma reflexão mais densa dentro do universo Victor Hugo. Acho que o diretor foi bem leve em relação a crítica política de como a busca pelo poder e domínio contribuem para opressão, miséria e descaso com as pessoas diferentes e de outras camadas sociais.

"As pessoas não são tão más. Elas são perigosas quando têm medo. Elas têm medo de tudo que é diferente".
"...A felicidade deve ficar escondida..."
"...A vida é só uma longa perda daqueles que amamos"


País: França/2012

Direção: Jean-Pierre Améris

Frances Ha

Graça e delícia de filme. Trilha sonora ótima. Cenas engraçadas, doces, sensíveis e reflexivas.
Bem colocado na crítica do site da folha, cena que adorei:

"É preciso estar de mal com a vida, ter o coração de pedra, ser ruim da cabeça ou doente do pé para resistir à cena de "Frances Ha" em que a protagonista sai correndo e dançando pelas ruas de Nova York ao som de "Modern Love", de David Bowie."

"...Oferece um retrato preciso sobre aquela fase da vida em que não sabemos exatamente que rumo tomar, o que fazer da vida --uma fase que, em alguns casos, teima em durar."


DIREÇÃO Noah Baumbach
PRODUÇÃO EUA, 2012